É de se lhe tirar o chapéu, contava ela em amena tertúlia!
Era uma noite como tantas outras, juntavamo-nos sempre naquele café para as indiscrições semanais, mundanices misturadas com assuntos sérios para apimentar o aspecto cultural da coisa, naquela soirée comentava-se a fuga de Sara e enquanto uns aprofundavam os pormenores da evasão, eu deambulava naquele ditado.
Sempre achei que chapéu é um termo demasiado generalista para o costume que representa (ou representava), já ninguém os trata pelos nomes, poucos são aqueles que os vestem, menos ainda os que os sabem vestir. Lembro-me da minha avó contar que a tia Fernanda não saia à rua sem eles e havia-os de todos os feitios, desde os cloches com aquele ar romântico dos anos 20, aos casquetes, que lhe eram favoritos, com aquela rede a proteger o decoro e as plumas para acentuar a ocasião.
Na minha imaginação hiperactiva, género Olivia Joules, pintei Sara a fugir com uma mala cheia de chapéus, cada um com o seu pretexto. Um encontro acidental num bistrô em que o próprio gesto de retirá-lo, seduz o olhar numa conversa íntima, ou num casamento pela manhã de chapéu ornamentado, sim, nada daquelas capelines de abas longas de meio de tarde. É quase tão importante saber usá-los como saber tirá-los e Sara sabe-o muito bem, sabe-o tão bem que os trata pelos nomes.
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